Quando alguém me pergunta onde a Wood Chat nasceu, eu nunca começo pela tecnologia.
A Wood Chat nasceu na água.
Nasceu no rio, no balanço lento da canoa, no cheiro de floresta molhada.
Nasceu quando a pesquisa no Edital Conexão Floresta (PPBio/Suframa/Idesam/MTH) me levou até a RDS do Uatumã e eu sentei na casa da dona Elisângela para ouvir a história dela, da família dela, da relação deles com a madeira, com o território, com a vida.
Aquele dia não foi só uma visita técnica, foi um reencontro.
Enquanto eu descia o rio na canoa, lembrei da minha infância, dos meus dias no rio Purus, passando por Sena Madureira, no interior do Acre com a minha família, pescando, rindo, assando peixe na beira do rio, sentindo o silêncio que só quem é do Norte entende. Ali, no meio daquela paisagem tão familiar, percebi que estava exatamente onde deveria estar.
Aquela pesquisa parecia ter sido escrita para mim.
Parecia contar minha história antes de eu mesma perceber isso.
Foi ali que eu me apaixonei por esse caminho. Foi ali que a ideia deixou de ser um estudo acadêmico e virou propósito. E o propósito virou negócio. Uma jornada com valor, território e alma.
Quando voltei para Rio Branco, carregando o sentimento empreendedor, o Sebrae Acre me acolheu. Eles me ensinaram o que é pitch, modelo de negócio, investimento, estratégia.
Foram eles que abriram a porta do universo de startup e mostraram que uma engenheira acreana poderia construir uma startup que nasce da floresta e fala com o mundo.
O Sebrae Acre me levou pela primeira vez ao Web Summit Lisboa.
Fomos apenas com um (01) produto e muitos sonhos na mala.
E voltamos sabendo que a tecnologia amazônica tinha espaço lá fora.
Nosso grito era: O Acre Existe e Inova!
Depois vieram os programas que moldaram a Wood Chat:
- Capital Empreendedor, maior programa de desenvolvimento de jornada de starups do Sebrae, no qual fomos finalistas e entendemos como conversar com investidores;
- Inova Amazônia, que reforçou nossa conexão com a bioeconomia;
- Programa PEIEX e Elas Exportam, da ApexBrasil, que nos prepararam de verdade para a internacionalização, com toque especial para mulheres empreendedoras;
- E, neste ano de 2025 para 2026, estamos no Acre for Startups, que hoje fortalece nossa base e nos ajuda a seguir crescendo de forma estratégica e consciente.
O Web Summit Lisboa 2025: o momento da virada

Esse caminho encontrou seu ponto de virada no Web Summit Lisboa 2025.
A organização do evento nos reconheceu como startup de impacto, destacando a força da tecnologia que nasce na Amazônia.
Durante as semanas que antecederam o evento, participamos de mentorias e rodas de preparação que nos ajudaram a apresentar a Wood Chat com clareza estratégica, visão global e maturidade, inclusive em atividades da Plug and Play, uma das maiores plataformas de inovação do mundo, nascida no Vale do Silício, que nos ajudou a fortalecer nossa presença para o processo de seleção internacional.
O resultado veio: fomos selecionadas entre as 10 startups brasileiras para integrar o programa de incubação internacional da ApexBrasil e parceiros em Lisboa, durante nove meses.
Paralelamente, a força do Inova Amazônia nos levou ao Seminário de Internacionalização, onde apresentamos nosso pitch diante de investidores e público aberto. Ao longo da preparação, passamos por mentorias profundas que nos ajudaram a lapidar nossa narrativa e reforçar nosso posicionamento para o palco.
No fim, entre todas as startups que se apresentaram, apenas três foram escolhidas para receber investimento e a Wood Chat foi uma delas.
Foi uma semana que transformou a rota da empresa. Voltamos ao Web Summit não como quem está descobrindo o mundo, mas como quem está pronto para construir com ele.
A força ancestral da nossa origem
No momento em que chamaram nosso nome, eu pensei na dona Elisângela.
Pensei na canoa.
Pensei no Purus.
Pensei nas histórias que carregam a floresta, que carregam o Acre, histórias essas que fazem parte da minha ancestralidade e moldam quem eu sou.
A internacionalização não começa quando a gente chega na Europa.
Começa na casa de quem mora na beira do rio.
Começa nas nossas memórias.
Começa quando entendemos que a tecnologia que nasce na Amazônia tem uma força ancestral.
A Wood Chat saiu da canoa para o mundo.
Mas nunca deixou de ser floresta.


